Cooperação, soluções e caminhos em tempos de pandemia

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A neurociência tem desenvolvido há algum tempo a ideia de que nossos instintos de sobrevivência mais primitivos possuem relação com a parte mais antiga do nosso cérebro. Essa região, que seria mais próxima do cérebro de animais e répteis em geral (por isso às vezes chamada de cérebro reptiliano), estaria ligada aos mecanismos de luta ou fuga.
Essa área do cérebro seria a primeira a ser acionada diante de situações de ameaça, inibindo a lógica e a razão. O neocórtex, ou cérebro racional, que diferencia os seres humanos dos demais animais, seria acionado apenas em um segundo momento, permitindo que a lógica, o pensamento abstrato e a criatividade passem a assumir o controle, possibilitando que lidemos com situações mais complexas de forma refletida.
Diante da situação de risco a que todos estamos expostos em razão da pandemia que enfrentamos, compreende-se que muitos acabem se guiando, nesse primeiro momento, pelo simples instinto de sobrevivência. Mas, considerando que nossa sociedade superará esse desafio, e que as relações sociais em algum momento devem retornar à normalidade, isso exige de nós pensarmos se de fato estamos adotando as ações mais racionais, seja como indivíduos, empregados, empresários ou governantes, neste momento.
Uma contribuição relevante para essa discussão vem da Teoria dos Jogos, que procura explicar, com modelos econômicos, como uma decisão que eu tomo afeta a decisão que o outro vai tomar. Por essa visão, considera-se que a decisão mais racional a ser adotada será uma se for possível estabelecer um diálogo e um acordo entre os envolvidos (jogos cooperativos), e outra quando esse diálogo não é possível (jogos não-cooperativos).
Exemplo disso é a atitude de quem corre ao supermercado e faz estoque de comida e outros suprimentos, partindo da premissa de que todos vão fazer o mesmo. Essa ação certamente seria diferente na hipótese de que todos estabelecessem um acordo no sentido de comprar apenas o realmente necessário, sabendo que, agindo dessa forma, não faltaria para ninguém.
Esse mesmo desafio será posto, nas próximas semanas, em várias dimensões. Na relação entre empresas sem faturamento e empregados com receio do contágio, mas que também querem preservar seus empregos. Na relação entre lojas, que precisam manter seus negócios, e shopping centers, que tentam preservar sua receita. Entre pessoas que tiveram que adiar indefinidamente suas viagens, e empresas do setor de aviação, que lidam com uma crise nunca vista antes.
O CONIMA trabalha há mais de vinte anos disseminando os mecanismos adequados de solução dos conflitos. Entendemos, há muito, que a melhor forma de resolver as disputas é por meio do diálogo, estabelecendo um ambiente que possibilite que as pessoas busquem opções que contemplem todos os interesses em jogo, pautados na racionalidade, na criatividade e na cooperação. A mediação de interesses e a arbitragem, que permite soluções rápidas e especializadas, nunca foram mais necessárias do que agora.
No mundo hiperconectado, complexo e globalizado em que vivemos, as decisões que cada um tomar agora certamente repercutirão sobre os outros e sobre como as nossas relações serão estabelecidas no momento pós-pandemia. E, para construirmos juntos soluções adequadas, é necessário desenvolver espaços de diálogo – ainda que virtuais – em todos os níveis, passando por lideranças locais, empresariais e políticas, por instituições públicas, privadas e entidades do terceiro setor.
A partir de agora, portanto, o CONIMA se dedicará também a divulgar ações, ideias e projetos voltados para a cooperação e para a busca de soluções consensuais para os impasses que enfrentamos. Nosso convite é para você reflita de que forma está colaborando e cooperando hoje para termos uma sociedade melhor amanhã e compartilhe conosco. Independente do caminho que escolhamos, o certo é que iremos percorrê-lo juntos.
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Por Danilo Miranda, sócio-fundador da CAMES, coordenador do Comitê de Responsabilidade Social do CONIMA. E Fernanda Rocha Lourenço Levy, mediadora civil e comercial certificada por ADR Group (Londres) e pelo IMI- International Mediation Institute. Sócia-fundadora do Instituto D’accord. Mestre e Doutora em Direito das Relações Sociais pela PUC-SP. Presidente do CONIMA.
Fonte: Migalhas – Segunda – 6/4/2020
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6 de abril de 2020 |

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